A ruína parece configurar o avesso do estado apreensivo da espera; ou, antes, uma espécie de espera resignada. A ruína é ativa renúncia, vagarosa e obstinada. Nossa vida adquire repentinamente uma profundidade geológica (como propôs Nuno Ramos) e esperar torna-se não mais motivo de excitação, mas uma experiência do próprio desamparo do tempo.
As ruínas de uma selvageria doméstica em Tarkovsky, as rachaduras como indício de uma fratura subjetiva em Polanski; Um atentado naturante é ensaiado em cada fresta no concreto ou pavimento, em cada espaço legado por um relapso humano. A raiz des-sedimenta a via (não há aí ressentimentos).
A Grande Espera, opera uma série de recortes espaciais e temporais (o fio do desejo que enlaça todos os tempos). A Galeria/Espaço Doméstico, O Espaço Doméstico/ Vegetação externa e rasteira. Não se trata propriamente de um paisagismo fortuito, ou uma alegoria botânica, mas de uma abdicação, de um espaço que se faz abandonar e de uma espera que se converte na retomada de um outro tempo, que não é o da expectativa, mas do abandono.
Carl André suspenso sobre pilotis. O universo flutua vagaroso.
2010