Abri em uma livraria uma pequena publicação de Maurice Blanchot. Meu impulso era o de comprá-lo, mas eu não tinha dinheiro. Sentei e tive que contentar-me em folheá-lo. Li uma passagem sobre a fala do oráculo, a fala profética; uma fala convertida em silêncio, uma fala sobre a linguagem do futuro que se silencia. Não se trata de uma narrativa sobre os eventos em curso que virão a ser, o inescapável, mas de um discurso que não se compromete com o passado. Lembrei-me imediatamente das utopias de Edson Luis André de Souza, essas insurgências contra a burocratização do amanhã. Um embate para que o amanhã rompa com os projetos pré-estabelecidos. Para Edson a arte ocupa um lugar fundamental na busca dessa linguagem do futuro, que Blanchot descreve como o silêncio. Isso se nos permitimos viver o amanhã como a frouxidão de formas inauditas.
Ontem estava em pleno espaço. Pude ver um planeta etéreo, um gigante gasoso com um núcleo de diamante, sucumbir sob sua própria pressão; morrer e em seguida renascer como um pequeno sol, uma estrela ofuscante, uma cabeça de agulha. Uma gota tingindo o espaço em sua fusão dourada. Um novo sol para um novo mundo. Para novos mundos tropicais; talvez para redimir os velhos.
Segunda-feira eu vi um senhor lançado ao mar, repousar ereto sobre as águas, apoiado sobre o casco de uma tartaruga que remou em segurança até a margem mais próxima. Comovido com a generosidade quelônia, o senhor agradeceu o nobre gesto. A tartaruga o fitou com negros olhos compassivos e voltou a planar, em mergulho, as profundezas.