Matias Monteiro (1980)

Matias Monteiro (Brasília - 1980) fez sua primeira exposição individual em 1984 em um pequeno apartamento na rua Saint Marc, Montreal, Canadá. Seus pais emolduraram seus desenhos e os expuseram na sala de estar, mas, afoitos, terminaram pendurando-os de cabeça para baixo. Matias pendura seus próprios desenhos desde então. Hoje, é mestre em Poéticas Contemporâneas (2008) e Bacharel em Artes Plásticas (2004) pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Atualmente é graduando em Museologia pela UnB.





The Velveteen Rabbit


The Velveteen Rabbit - or how toys become real é um livro de Margery Williams.
Quando eu era criança eu vi uma animação baseada no livro e fiquei profundamente impressionado com a trama do coelho de brinquedo que queria ser um coelho de verdade.
Na época eu tinha ganhado um urso de pelúcia que era quase do meu tamanho. Seu nome era "the other". Conta a lenda que uma vez meu pai me levou a faculdade quando estava fazendo seu doutorado, e em uma sala da instituição, sem nenhuma justificativa que me parece convincente, havia um colossal urso de pelúcia em uma prateleira. Desse encontro lembro me apenas (ou fora levado a me lembrar, não sei ao certo e pouco importa) que eu o vi tão alto, em um ângulo de visão tão improvável e arrebatador que naquele momento eu decidi que precisava ter um urso como aquele. Meus pais se impressionaram com a convicção desse desejo, e na primeira oportunidade me presentearam com um urso. Vá-lá, não era tão imponente quanto aquele urso universitário, mas dava para o gasto. Eu então o nomeei de "o outro". Se esse nome era uma espécie de lamentação resignada ou uma estratégia lúdica de espelhamento (uma cumplicidade meio troncha), isso persiste como um mistério pueril.
Pois bem, ao ver o desejo tão veemente e inabalável do coelho em ser real ,desejo que eu certamente achava comparável com as minhas convicções e meninices, eu fiquei profundamente atormentado. Mathew Barrie justifica o compartamento reprovável de Sininho em Peter Pan com o argumento de que as fadas são tão pequenas que não podem ter mais de um sentimento ao mesmo tempo... não cabe! Assim são as crianças... acho que nunca teremos impasses lógicos tão perturbadores como quando éramos crianças... talvez porque nos dedicávamos a eles por inteiro. Fora, então, dominado por imagens daquele meu amigo bonachão tornando-se repentinamente um feroz urso de verdade. Desde então cheguei a conclusão de que deveria tratá-lo da forma mais polida e cordial possível, para, no caso dele se tornar um urso de verdade, não sentir-se impelido a vingar-se de cada abandono descuidado ou brincadeira truculenta.
Retomando esses vestígios, resolvi fazer um pequeno desenho inspirado no Velveteen Rabbit... talvez uma reconciliação com essas feras que nos habitam...