Matias Monteiro (1980)

Matias Monteiro (Brasília - 1980) fez sua primeira exposição individual em 1984 em um pequeno apartamento na rua Saint Marc, Montreal, Canadá. Seus pais emolduraram seus desenhos e os expuseram na sala de estar, mas, afoitos, terminaram pendurando-os de cabeça para baixo. Matias pendura seus próprios desenhos desde então. Hoje, é mestre em Poéticas Contemporâneas (2008) e Bacharel em Artes Plásticas (2004) pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Atualmente é graduando em Museologia pela UnB.





A inconfundível história do jovem amor genocida (I)

- Deixe-me cuidar disto. – Ela esticou sua mão e inclinou-se delicadamente. “Poderia facilmente ser uma bailarina”, pensou consigo mesmo enquanto observava a graça com a qual ela realizava a mais ínfima das tarefas.

Seus movimentos tão sutis pareciam demonstrar uma cortesia estéril ou uma complacência dissimulada que a princípio o incomodaram; mas ele se rendeu logo que viu aquela luva branca tocar tão delicadamente o casaco preto, como um floco de neve pousando lentamente sobre um oceano negro, um gélido encontro entre duas maciezas. Dedilhou o tecido com lentidão, e assim que encontraram um ponto apoio preciso, içou-o de seu braço estendido como se a veste pairasse sob um sopro divinal. Ele teria a amado... sentia que seria capaz de amá-la. Não por seus sorrisos fictícios, por sua beleza neutra ou seus modos polidos... não, a teria amado apesar de tudo isso. Se a amasse, seria pela bela imagem de suas mãos emplumadas sobre o forro sintético e cintilante de seu casaco.

Mas, tão logo que ela pendurou o casaco em um gancho oportunamente próximo (passando suavemente a mão para que ele não abarrotasse e ficasse, assim, perfeitamente distribuído em sua flacidez), ela o fitou com um sorriso repugnante; um sorriso tolo, uma contração muscular que parecia involuntária, seus lábios comprimidos um contra o outro, seu olhar vítreo e submisso, o modo artificial com que seus cabelos pendiam como uma massa negra esculpida sobre sua cabeça, e, por fim, um pequeno suspiro de satisfação, um patético e triunfante sopro melódico de júbilo de asseio. Sim, tudo estava impecável, e ele já não amava mais.