Já não se trata, aqui, do ímpeto pela paleontologia, esse ofício arcaica do desvendar das “bestas eternas”[1], prodigiosos artifícios biológicos tão solícitos aos tempos mais antigos... e tão antigos são nossos tempos.
O zootropo anima a imagem, a põe em giro e desperta nela o desejo pelo movimento; no entanto o campo da visão está sempre em giro, sempre rotacionado em função de um giro que lhe é essencial e que nada move, que intui a ação da temporalidade mediante suas cicatrizes, as “marcas de dentes do tempo”[2], essa “ranhura primitiva”[3]. O dinossauro é o monstro domesticado porque obsoleto: é uma criatura pueril.
O gesto fossilizado procrastina o movimento. O estático é estratigráfico; e ficcional.
Matias Monteiro
Novembro de 2007.
[1] MARKER, Chris. La Jetée, França:1962. 28 minutos.
[2] Interpol, Our Love to Admire (2007): “But there are days in this life/ When you see the teeth marks of time”
[3] LACAN, Jaques. Seminário 11 – Os quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro: 1998. Pg. 77