Matias Monteiro (1980)

Matias Monteiro (Brasília - 1980) fez sua primeira exposição individual em 1984 em um pequeno apartamento na rua Saint Marc, Montreal, Canadá. Seus pais emolduraram seus desenhos e os expuseram na sala de estar, mas, afoitos, terminaram pendurando-os de cabeça para baixo. Matias pendura seus próprios desenhos desde então. Hoje, é mestre em Poéticas Contemporâneas (2008) e Bacharel em Artes Plásticas (2004) pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Atualmente é graduando em Museologia pela UnB.





toca. Instalação/ 2007. Matias Monteiro e Luciana Paiva.

Esse coelho, oclusão de pelúcia, volta-se para si, perdido na imensidão da sala escura. A Galeria da Casa da Cultura da América Latina (que, momentaneamente, se converte em seu cárcere) é alcançada em um jogo de escadas. É necessário descender (origem/abaixo). O descer da escada se dá em uma série de quedas calculadas, um movimento quase involuntário, resposta do meu corpo na busca de preencher os vazios arquitetônicos, escoando em virtude da gravidade pela consecução de degraus... um movimento assim, tão banal, tão corriqueiro, não mereceria sequer um momento de reflexão.O jogo de consecução de pés e pernas, a cadência do som desenfreado de passos, o toque vacilante no corrimão, se convertem no mais tolo dos movimentos (ou menos que um movimento). Descendo, chego a toca do coelho. É apenas na decadência que eu a alcanço.
Uma vez lá, me faço invasor. Temo o negro, mas entro na sala. A única fonte luminosa volta-se para o coelho, inicialmente protegido da visão do visitante pela pilastra que se faz anteparo ao olhar. É necessário uma aproximação. Passos vacilantes (como sempre são os deslocamentos no escuro); o breu não é total, é mera penunbra, suficiente para inquietar o andar.
Então eu o vejo. Já não me resta escapatória desse pequeno sistema patológico, tão compacto e perturbador. E a mim, pede-se que eu o suporte, que o aprecie, ou ao menos, que o veja. Mas não há nada a ver. Não a nada a saber, não há o que presenciar a não ser um ato de resistência, um gesto que se imobiliza, um movimento potencial. Algo vai acontecer, mas nada de fato acontece... a mim, só resta a abnegação moral e o embaraçar das pernas ao subir as escadas.


Luciana Paiva e Matias Monteiro