Matias Monteiro (1980)

Matias Monteiro (Brasília - 1980) fez sua primeira exposição individual em 1984 em um pequeno apartamento na rua Saint Marc, Montreal, Canadá. Seus pais emolduraram seus desenhos e os expuseram na sala de estar, mas, afoitos, terminaram pendurando-os de cabeça para baixo. Matias pendura seus próprios desenhos desde então. Hoje, é mestre em Poéticas Contemporâneas (2008) e Bacharel em Artes Plásticas (2004) pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília. Atualmente é graduando em Museologia pela UnB.





Nimbus. Instalação/ 2006

Ao descrever a Terra vista do espaço, a bordo da Vostok 1, Iuri Gagarin opera uma inversão radical entre o pretume, outrora atributo da terra, e o azul aureolo do céu. É essa Terra invertida (que brilha em azul e da qual se distingue os rios e florestas entrecobertos de nuvens), o "espetáculo" impressionante que arrebata Gagarin e faz com que (entre suas comunicações sobre a interação com o aparato que ali o sustenta, confirmação da segurança e dados da missão) interrompa-se momentaneamente em seu fluxo mecânicos de contatos com a base terrestre e aventure-se a descrever, com um fascínio pueril, sua visão. "Eu vejo as nuvens sobre a Terra [...] , e suas sombras... É muito belo, belíssimo...". Gagarin goza de sua posição de exílio, descreve a Terra recoberta por um denso ninbustrato: "(...) a superfície da Terra está encoberta, praticamente não evidente". Neste momento da missão, em que as nuvens bloqueiam o olhar de Gagarin e em que o céu também resiste a sua visão ("O céu, céu negro, céu negro, mas as estrelas acima não estão evidentes"), ela se converte em profunda solidão, onde tudo se encontra entre o branco das nuvens e o negro do céu, intermediado pelo parco azul...o que resta?
A Vostok renova assim o sonho do sobrevôo; a visão do viajante de pés-alados, que contempla do alto seu próprio lar. Gagarin redime a máquina. Em seu vôo, movido a guerra fria, fruto da engenhosidade técnica e aparto soviético, se vê momentaneamente sobrevoando o mundo. Um mundo. Não há aí nenhum pequeno ou grande passo... nem homem nem humanidade... há apenas Gagarin que se percebe frágil; que inadvertidamente se espanta com a beleza leve de seu mundo, que de perto lhe parece tão denso e, uma vez conclamado a descrevê-lo, só é capaz de atribuir-lhe uma cor. Azul, azul.
Gagarin é o sonho do cartógrafo: é Ícaro feliz, pois aprendeu a cair “com doçura"; e desse doce afastamento, o desfecho único, aponta Jean Cocteau, é fazer de si mesmo nuvem...